Ainda criança, um livro caiu nas mãos de Renata Magliano. Chamava-se “Os mais belos sonetos brasileiros”. Veio por intermédio de sua avó Aldinha. Desde então, Renata não largou mais a literatura e resolveu ela mesma se aventurar na arte da escrita, hobbie que foi incentivado por seu avô João. “Ele era poeta e sempre declamava suas poesias nas reuniões familiares. Isso me marcou muito”, diz.
O tempo passou e Renata tornou-se médica patologista. Profissão que, segundo ela, está intimamente relacionada com a atividade literária que cultiva até hoje. “Escolhi a medicina pelo fascínio pelos detalhes que revelam a história do corpo humano”, diz. Além disso, para Renata, cuidar vai além do físico; significa também cuidar da alma. “Entre a medicina e a poesia, encontrei meu lugar: unir ciência e arte para enxergar e tocar a vida com mais sensibilidade”, afirma.
O anseio por tratar a alma fez com que a médica patologista publicasse seus poemas no Instagram, aventura que desembocou em seu livro de estreia: “Trinta e cinco pausas”, publicado pela Editora Devir, poesia & prosa. A obra almeja ser um respiro em meio ao caos da vida cotidiana, para que o leitor reflita sobre a vida e sobre si próprio. “Quero que saiba de uma coisa: o que está em suas mãos é um convite para mergulhar em si mesmo”, afirma a autora no início da obra. Ao todo são 140 poemas, divididos em quatro partes, intituladas: “Sentir”; “Sonhar”; “Viver” e “Ressignificar”.
Os poemas de “Trinta e cinco pausas” levam o leitor à autorreflexão a partir de uma espécie de desabafo da autora sobre aquilo que está dentro de si própria: pensamentos, sentimentos, emoções e anseios. Não à toa, a obra começa com este curto, singelo e profundo verso: “Já que se deve/começar/de algum lugar/que seja/de dentro”. De dentro de Renata saem as mais belas ponderações sobre o amor na primeira parte do livro, demonstrando que a autora não é avara em sentir e amar. Deixam bastante claro isso os seguintes versos: “Sofro/ de intensidade/ não sei amar/ pela metade”; “receita/ de amor/ não tem medida/é a gosto” e “Sou feita/ de carne e osso/ e amor e sangue”.
Em “Sonhar”, a médica patologista e escritora trata da matéria que impulsiona o viver. “Sonhos me vêm/voo com eles”, escreve à certa altura. E também: “Por onde passam/seus desejos/aí está/sua felicidade”. Se o tema principal dessa parte é o aspecto motivador da vida, sonhos, objetivos e metas, nada mais justo que alguns textos sejam dedicados a um dos ofícios que mais ama: a escrita, mais especificamente o ato de escrever poesias. Dos diversos poemas, destaque para este, com os seguintes versos: “Não reduza a poesia/ a meras palavras/ o que mais é capaz/ de florear esse mundo?”.
Na epígrafe da terceira parte, Renata deixa bem claro o seu conceito de viver. “… é bem mais que apenas existir”, escreve. Seus poemas mostram de forma bem evidente a intensidade que uma vida precisa ter para que a autora a considere digna: “É preciso agradecer e rir/ das nossas loucuras/ intensidade e confusões/ que delícia é viver/ sentir/ se entregar/ ao que vier/ e tiver de ser”. A vida em si é louvada nessa parte pela autora, que se nega a deixar de experimentar, criar e ser feliz. “Enquanto minhas cortinas/ estiverem abertas/ me faço artista/ e plateia; prego peça com a vida/ brinco no meu palco”, diz.
Na quarta e última parte, intitulada “Ressignificar”, diversos poemas tratam sobre a importância do recomeço no sentido de se tornar protagonista da própria história. Com essa chave de leitura, compreendemos melhor os versos “me livro/ de pesos velhos/ e me vejo livre/ para novas emoções”; “me visto de recomeços/roupas novas/ me caem tão bem”; “me refaço/refiz/ só não me canso de ser feliz”. Nesse trecho da obra, a autora discorre também sobre a liberdade de ser o que se é, sem temer os desafios que não cessam de aparecer no caminho, abraçando a incerteza da vida.
A importância da escrita na vida da médica patologista e a reflexão sobre o ato de escrever permeiam todo seu livro de estreia. Ao falar sobre o ofício pelo qual nutre um amor incondicional, a autora fala sobre si mesma. Escrever e viver se confundem muitas vezes para Renata, como mostram os versos finais da obra: “Estou em minhas mãos/haveria lugar melhor/eu caberia em outras?/ me cabe estar em mim/ primeiro me vejo/ me sinto, me escuto/ percebo traços, curvas, cores/ texturas, marcas, movimento/ é no mexer das mãos/ que aparecem palavras/ é no dançar das mãos/ que danço no papel/ enquanto escrevo/ sinto que danço/ por toda a vida”.
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